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28 de abr. de 2014

ETERNIDADE



Conheci-te de noite: por isso te chamo estrela.
Conheci-te de dia: por isso te chamo claridade.
Conheci-te em todas as horas: por isso
te chamo eternidade.

Albano Martins,
in “Vocação do Silêncio”

TALVEZ



Sim, dizias tu, mas em seguida
corrigiste:
talvez.
Esta é a única palavra
que não tem casa.
Que mora
no intervalo
entre o som e o silêncio…


- Albano Martins -
in Palinódias, palimpsestos

26 de abr. de 2014

SE O TEMPO...



Se o tempo
fosse
uma flor, o seu
perfume
seria
esta luz
escorrendo
pelas escarpas
do dia.

Albano Martins,
in Antologia Poética

9 de abr. de 2014

ILHA DE COS




Eu sabia que tinha de haver um sítio
Onde o humano e o divino se tocassem
Não propriamente a terra do sagrado
Mas uma terra para o homem e para os deuses
Feitos à sua imagem e semelhança
Um lugar de harmonia
Com sua tragédia é certo
Mas onde a luz incita à busca da verdade
E onde o homem não tem outros limites
Senão os da sua própria liberdade

Manuel Alegre,
in Chegar aqui


Quinto Poema do Pescador



Eu não sei de oração senão perguntas
ou silêncios ou gestos ou ficar
de noite frente ao mar não de mãos juntas
mas a pescar.

Não pesco só nas águas mas nos céus
e a minha pesca é quase uma oração
porque dou graças sem saber se Deus
é sim ou não.

Manuel Alegre
In ‘A Praça Da Canção’ ( 1975)







MAS QUE SEI EU



Mas que sei eu das folhas no Outono
ao vento vorazmente arremessadas
quando eu passo pelas madrugadas
tal como passaria qualquer dono?

Eu sei que é vão o vento e lento o sono
e acabam coisas mal principiadas
no ínvio precipício das geadas
que pressinto no meu fundo abandono

Nenhum súbito súbdito lamenta
a dor de assim passar que me atormenta
e me ergue no ar como outra fogueira qualquer.

Mas eu que sei destas manhãs?
as coisas vêm vão e são tão vãs
como este olhar que ignoro que me olha


Ruy Belo
(In «todos os poemas)