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28 de set. de 2009
O sino e a sina
Percorreras de novo
estas veredas. Ouvirás
de novo o sino (e a sina)
nas asas
da calhandra. Deixaras
finalmente à sombra
adulta dos salgueiros
teu pálido rebanho.
Então,
podes volver os passos,
subir a escada erma
e plantar
uma flor no vazio.
Albano Martins
In: Antologia Poética
27 de set. de 2009
PARTIDA DE XADREZ COM IVAN JUNQUEIRA
Disseste a um jornal é absurdo morrer,
irmo-nos sem um deus, mas não sei outro modo
de viver e morrer; e também lhes dizias
um poente não é poente sem poesia.
Todavia, assentemos, é o sol que se esconde,
ou melhor, o rodar contínuo do planeta,
e por rodar assim é que nós respiramos,
a luz nos ilumina e partimos sozinhos.
Mas isso é já sabido antes do eppur si muove,
e neste tabuleiro onde jogo contigo
os meus peões e bispos os deuses inventados
há muito o xeque-mate nos destinavam, cínicos.
E quando começamos o jogo, pensativos,
quando me falaste é absurdo morrer só,
jamais nos ocorreu, para assim não morrermos,
nos bastava a alegria de um dia termos sido
altivos e distantes das mesas de xadrez.
Nuno Dempster
in Dispersão - Poesia Reunida, Edições Sempre-Em-Pé, 2008
26 de set. de 2009
Infinito interior...
Saramago
Depois do Inverno, morte figurada
Que fizeste das palavras?
23 de set. de 2009
QUEM PODE IMPEDIR A PRIMAVERA
Quem pode impedir a Primavera
Se as árvores se vão cobrir de flores
E o homem se sentiu sorrir à Vida?
Quem pode impedir a surda guerra
Que vai nos campos deslocando as pedras
- Mudas comparsas no ritmo das estações -
E da terra inerte ergueu milhares de lanças
Que a tremer avançam, cintilantes, para o limite
Em que a luz aquosa se derrama
Como um mar infinito onde o arado
Abre caminho misterioso à seiva inquieta!
Quem pode impedir a Primavera
Se estamos em 'Setembro' e uma ternura
Nos faz abrir a porta aos viandantes
E o amor se abriga em cada um dos nossos gestos.
Quem?...
Se os sonhos maus do Inverno dão lugar à Primavera!
Ruy Cinatti
21 de set. de 2009
Perfil
Feliz Ano 5.770 !!!
10 de set. de 2009
Existência
Viver,
é saber
que a única certeza
que se pode ter
é a incerteza.
É
ser
parte na natureza
e,
para alguns – apenas – sobreviver.
Quantas vezes sem beleza.
É,
muitas vezes,
diante da evidência
estremecer,
a esperança quase perder
e
a existência
procurar esquecer.
É agradecer
as alegrias
de certos dias
e
sofrer
com as tristezas
das nossas próprias impurezas.
É
jazer,
ao comungar a condição humana
de sujeição,
como toda a criação.
Mas também é não esmorecer.
E a situação,
combater.
Vicente Ferreira da Silva
in Letras, Palavras e Linhas: Gestos pela diferença
JARDIM DO ÉDEN
Árvores do bem e do mal,
Árvores da ciência e da vida.
Frutos de possibilidade
do presente e para o futuro.
Escolhas eternas,
dilemas constantes.
Sentidos humanos
e novas expulsões.
O jardim do éden existe!
É, em nós, conhecimento puro.
Depende do discernimento
para ser defeito ou virtude.
Vicente Ferreira da Silva
in Letras, Palavras e Linhas: Gestos pela diferença
3 de set. de 2009
Fernando Pessoa
Tenho tanto sentimento
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.
Fernando Pessoa
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