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31 de mar. de 2009

Transantúltimas vontades


A meus filhos — para que as
cumpram, ou não, e as façam
(ou não) cumprir.

Meninos, tomem sentido:
amanhã já não me acordem.
— É isso, pai, um pedido?...
— Não, amores: é uma ordem.

Vou morrer menino e moço,
sem pátria nem parentela,
com esta cruz ao pescoço
e a coroa real na lapela.

Pretendo um inteiro olvido.
Não quero que me recordem.
— É isso, pai, um pedido?...
— Não, amores: é uma ordem.

Rodrigo Emílio

Transantúltimas vontades


A meus filhos — para que as
cumpram, ou não, e as façam
(ou não) cumprir.

Meninos, tomem sentido:
amanhã já não me acordem.
— É isso, pai, um pedido?...
— Não, amores: é uma ordem.

Vou morrer menino e moço,
sem pátria nem parentela,
com esta cruz ao pescoço
e a coroa real na lapela.

Pretendo um inteiro olvido.
Não quero que me recordem.
— É isso, pai, um pedido?...
— Não, amores: é uma ordem.

Rodrigo Emílio

Para a menina de seu pai


Para a menina de seu pai,
Trint’anos depois...

A minha filha primeira
nasceu após o Natal.
Esta lágrima... Esta olheira...
datam do seu funeral.

Tinha um perfil tão perfeito
— de filigrana franzina,
essa menina-de-peito
que me morreu, em menina...!

F’lipinha não se esvai...
Faz hoje anos. Trinta anos!
Veio convidar o pai
para a festa ser de ambos...


Rodrigo Emílio

Para a menina de seu pai


Para a menina de seu pai,
Trint’anos depois...

A minha filha primeira
nasceu após o Natal.
Esta lágrima... Esta olheira...
datam do seu funeral.

Tinha um perfil tão perfeito
— de filigrana franzina,
essa menina-de-peito
que me morreu, em menina...!

F’lipinha não se esvai...
Faz hoje anos. Trinta anos!
Veio convidar o pai
para a festa ser de ambos...


Rodrigo Emílio

Rodrigo Emílio



Rodrigo Emílio de Alarcão Ribeiro de Mello nasceu em Lisboa a 18 de Fevereiro de 1944, um mês depois de perder a avó paterna, que não chegou a conhecer. Perdeu o pai a 27 de Setembro de 1952, quando ainda não tinha dez anos, que lhe causa um vazio infindável.



Em 1953, sofre um novo desgosto com a morte do avô paterno. Estudou no Colégio João de Deus,no Liceu Camões e cursou Filologia Românica, curso que o obrigou a passar um ano em Coimbra.



Os seus primeiros versos datam da infância e juventude e são editados em diversas publicações. Em 1963 sai a lume na separata da revista Ocidente a novela-quase-poema Rasgões no Sonho, que teve também a versão portuguesa do texto poético da opereta com música de Schubert Canção de Amor, que subiu à cena em Lisboa no Teatro da Trindade e inaugurou o programa da temporada lírica do mesmo ano.



Ainda em 1963, é premiado no Concurso de Manuscritos do S.N.I. como autor do original As Lágrimas Ancoradas à Sombra do Amor, que em 1965 publica em livro.



Sonhador e romântico como todo o poeta verdadeiro, ofereceu rimas e versos, entoou trovas e serenatas, cantou e encantou a terra dos avós paternos que tanto amava.



Casou-se com Maria Ester em Abril de 1967 na capela da sua casa de São José em Parada de Gonta e tiveram quatro filhos. Em plena lua de mel por terras de Serém, é informado por uma pessoa da família que deverá apresentar-se em Mafra nesse mesmo mês para o serviço militar.



O mês de Janeiro de 1968 marca o nascimento do seu primeiro filho, Rodrigo Victor, nome que era também de seu pai, avô do recém-nascido. Seis meses depois de terminada a recruta em Mafra, embarca com a família para Moçambique onde vai cumprir a comissão militar. Durante dois anos, presta serviço como alferes miliciano no Corpo Expedicionário.



Em 1969 vai a Lisboa de licença, ocasião em que recebe o premio dos Jogos Florais da Emissora Nacional na modalidade de Poesia Lírica com que tinha sido contemplado.



Nos últimos meses de 1970 regressa definitivamente a Portugal à mídia portuguesa, onde aliás já prestava serviço, e inicia a produção das rubricas de poesia ‘Vestiram-se os Poetas de Soldados’ e ‘Sobre a Terra e Sobre o Mar’ exibidas em 1971 e 1972, respectivamente. Ao mesmo tempo, colabora assiduamente com a Verbo Editora nos sectores cultural e educativo.



A 27 de Dezembro de 1971 nasce-lhe a primeira filha, a quem dá o nome de Filipa Catarina, mas a 11 de Janeiro, quando ainda mal despontava para a vida, a pequena Filipa Catarina abandona este mundo depois de uma agonia atroz e lancinante que o mergulha num luto interminável.



Em 1972, dedica à filha morta uma elegia de grande beleza poética, Poemas Acenados a Uma Criança Longe, que, mais que nenhuma, talvez, exprime num estilo incomparável a dor de uma perda sem remédio, a tristeza sem cura de uma saudade para sempre.



Em 1973, é editada a antologia de poetas portugueses ‘Vestiram-se os Poetas de Soldados — Canto da Pátria em Guerra’ em homenagem aos combatentes da guerra do Ultramar, antologia organizada por Rodrigo Emílio.



Ainda em 1973, dá à estampa mais dois livros, Primeira Colheita e A Segunda Cegueira, a que se segue um terceiro, Serenata a meus Umbrais, súmula de textos em prosa e em verso de grande beleza plástica.



A 17 de Julho do mesmo ano nasce-lhe outro filho, Gonçalo Tomás, o terceiro da família.



Perseguido pelo regime da época, Rodrigo Emílio viu-se forçado a tomar o caminho do exílio e partiu com a família para Madrid, onde a 18 de Março de 1975 veio ao mundo Constança Filipa, a segunda filha e última nascida.



Um dia, sempre acompanhado da mulher e dos filhos, deixa a Espanha que o tinha acolhido, cruza o céu do Atlântico e voa para o Canadá a alimentar uma esperança, mas em breve é torturado pela lonjura que o aflige e separa de tudo… e segue para o Brasil, onde sucede o mesmo, a mesma inquietação, a mesma ansiedade, a mesma nostalgia. As notícias que espera chegam tarde, é longe… e regressa a Madrid com o filho Gonçalo. A mulher e os outros filhos ficam no Rio de Janeiro para que o Rodrigo Victor não perca a primeira classe da escola. Mais tarde e de novo, estão todos reunidos em Madrid. É então que decide regressar a Lisboa.



Havia que refazer um pouco a vida, procurar um ponto de apoio menos incerto e mais seguro, e entra ao serviço da Rádio Renascença. Os filhos ingressam no Colégio Manuel Bernardes.



Na década de 80 vai viver para Viseu onde leciona durante três anos em escolas oficiais, mas não faz parte do seu caráter submeter-se a horários programados, a regras frias e imprecisas, a intrigas escolares, a proibições caprichosas e sem justificação… e decide dar explicações em sua própria casa. Entretanto, deixa Viseu cada fim de semana e retira-se na Casa de S. José em Parada de Gonta onde continua solitariamente, muitas vezes dias a fio e noites adentro, a sua magnífica e inspirada obra literária e poética. Onde recebe também os amigos e camaradas que o visitam e com quem partilha longas tertúlias... sempre fiel ao inseparável Português Suave e à chávena de café.



A 24 de Janeiro de 1996 recebe a notícia de que é avô. O primeiro neto chama-se Rodrigo como ele próprio e é o iniciador da quarta geração. Dois anos mais tarde, a 8 de Dezembro, nasce o segundo neto, Tiago.



Os últimos tempos em Parada de Gonta fizeram-no conhecer dias difíceis e penosos, horas cruéis que teriam derrubado uma alma menos sã ou menos preparada. Não obstante a existência discreta e pacata que levava entre pilhas de papéis e montanhas de livros, não poucas vezes se via alvo da inveja, da mesquinhês, do dito torpe e malévolo e, frequentemente, da baixeza de “gente feita à pressa com pressa de ser gente”, como ele mesmo dizia muito acertadamente...



E voltou de novo para Lisboa, não apenas porque sentia que chegava aos limites do que devia suportar, mas porque queria estar perto dos que continuavam a merecer a sua estima e que, na verdade, não o abandonaram. Depois, era o convívio literário e poético, o reencontro com velhos amigos, a partilha de ideias e gostos idênticos, a comunhão recordações, o culto do amor à Pátria... que um dia foi.



Era um farol resplandecente na noite negra e tormentosa, um carbúnculo brilhante nesta era de espanto assombrada pelo pio lúgubre do pássaro da morte... Era ele com os pés na terra e os olhos no céu, uma mão na caneta e outra na espada, o porte nobre e fidalgo do poeta-guerreiro para quem a honra se chama fidelidade.



Rodrigo Emílio tinha de pagar o tributo final... para chegar à última clarificação, talvez, que é o mais certo. Assim, foi-se deixando morrer, mas aos poucos, devagar, como o Rei-menino de Alcácer Quibir. Havia que matar saudades e quis voltar aos seus mortos e se foi em 28 de março de 2004.



OBRAS



As lágrimas ancoradas à sombra do amor (1963)

Mote para motim (1971)

Paralelo 26 s às audições do ìndico (1971)

Poemas acenados a uma criança longe (1972)

A segunda cegueira (1973)

Primeira colheita (1973)

Serenata a meus umbrais (1976)

Reunião de ruínas (1978)

Poemas de braço ao alto (1982)



Fonte: Comunidade Biografia e Poesia Portuguesa



Rodrigo Emílio



Rodrigo Emílio de Alarcão Ribeiro de Mello nasceu em Lisboa a 18 de Fevereiro de 1944, um mês depois de perder a avó paterna, que não chegou a conhecer. Perdeu o pai a 27 de Setembro de 1952, quando ainda não tinha dez anos, que lhe causa um vazio infindável.



Em 1953, sofre um novo desgosto com a morte do avô paterno. Estudou no Colégio João de Deus,no Liceu Camões e cursou Filologia Românica, curso que o obrigou a passar um ano em Coimbra.



Os seus primeiros versos datam da infância e juventude e são editados em diversas publicações. Em 1963 sai a lume na separata da revista Ocidente a novela-quase-poema Rasgões no Sonho, que teve também a versão portuguesa do texto poético da opereta com música de Schubert Canção de Amor, que subiu à cena em Lisboa no Teatro da Trindade e inaugurou o programa da temporada lírica do mesmo ano.



Ainda em 1963, é premiado no Concurso de Manuscritos do S.N.I. como autor do original As Lágrimas Ancoradas à Sombra do Amor, que em 1965 publica em livro.



Sonhador e romântico como todo o poeta verdadeiro, ofereceu rimas e versos, entoou trovas e serenatas, cantou e encantou a terra dos avós paternos que tanto amava.



Casou-se com Maria Ester em Abril de 1967 na capela da sua casa de São José em Parada de Gonta e tiveram quatro filhos. Em plena lua de mel por terras de Serém, é informado por uma pessoa da família que deverá apresentar-se em Mafra nesse mesmo mês para o serviço militar.



O mês de Janeiro de 1968 marca o nascimento do seu primeiro filho, Rodrigo Victor, nome que era também de seu pai, avô do recém-nascido. Seis meses depois de terminada a recruta em Mafra, embarca com a família para Moçambique onde vai cumprir a comissão militar. Durante dois anos, presta serviço como alferes miliciano no Corpo Expedicionário.



Em 1969 vai a Lisboa de licença, ocasião em que recebe o premio dos Jogos Florais da Emissora Nacional na modalidade de Poesia Lírica com que tinha sido contemplado.



Nos últimos meses de 1970 regressa definitivamente a Portugal à mídia portuguesa, onde aliás já prestava serviço, e inicia a produção das rubricas de poesia ‘Vestiram-se os Poetas de Soldados’ e ‘Sobre a Terra e Sobre o Mar’ exibidas em 1971 e 1972, respectivamente. Ao mesmo tempo, colabora assiduamente com a Verbo Editora nos sectores cultural e educativo.



A 27 de Dezembro de 1971 nasce-lhe a primeira filha, a quem dá o nome de Filipa Catarina, mas a 11 de Janeiro, quando ainda mal despontava para a vida, a pequena Filipa Catarina abandona este mundo depois de uma agonia atroz e lancinante que o mergulha num luto interminável.



Em 1972, dedica à filha morta uma elegia de grande beleza poética, Poemas Acenados a Uma Criança Longe, que, mais que nenhuma, talvez, exprime num estilo incomparável a dor de uma perda sem remédio, a tristeza sem cura de uma saudade para sempre.



Em 1973, é editada a antologia de poetas portugueses ‘Vestiram-se os Poetas de Soldados — Canto da Pátria em Guerra’ em homenagem aos combatentes da guerra do Ultramar, antologia organizada por Rodrigo Emílio.



Ainda em 1973, dá à estampa mais dois livros, Primeira Colheita e A Segunda Cegueira, a que se segue um terceiro, Serenata a meus Umbrais, súmula de textos em prosa e em verso de grande beleza plástica.



A 17 de Julho do mesmo ano nasce-lhe outro filho, Gonçalo Tomás, o terceiro da família.



Perseguido pelo regime da época, Rodrigo Emílio viu-se forçado a tomar o caminho do exílio e partiu com a família para Madrid, onde a 18 de Março de 1975 veio ao mundo Constança Filipa, a segunda filha e última nascida.



Um dia, sempre acompanhado da mulher e dos filhos, deixa a Espanha que o tinha acolhido, cruza o céu do Atlântico e voa para o Canadá a alimentar uma esperança, mas em breve é torturado pela lonjura que o aflige e separa de tudo… e segue para o Brasil, onde sucede o mesmo, a mesma inquietação, a mesma ansiedade, a mesma nostalgia. As notícias que espera chegam tarde, é longe… e regressa a Madrid com o filho Gonçalo. A mulher e os outros filhos ficam no Rio de Janeiro para que o Rodrigo Victor não perca a primeira classe da escola. Mais tarde e de novo, estão todos reunidos em Madrid. É então que decide regressar a Lisboa.



Havia que refazer um pouco a vida, procurar um ponto de apoio menos incerto e mais seguro, e entra ao serviço da Rádio Renascença. Os filhos ingressam no Colégio Manuel Bernardes.



Na década de 80 vai viver para Viseu onde leciona durante três anos em escolas oficiais, mas não faz parte do seu caráter submeter-se a horários programados, a regras frias e imprecisas, a intrigas escolares, a proibições caprichosas e sem justificação… e decide dar explicações em sua própria casa. Entretanto, deixa Viseu cada fim de semana e retira-se na Casa de S. José em Parada de Gonta onde continua solitariamente, muitas vezes dias a fio e noites adentro, a sua magnífica e inspirada obra literária e poética. Onde recebe também os amigos e camaradas que o visitam e com quem partilha longas tertúlias... sempre fiel ao inseparável Português Suave e à chávena de café.



A 24 de Janeiro de 1996 recebe a notícia de que é avô. O primeiro neto chama-se Rodrigo como ele próprio e é o iniciador da quarta geração. Dois anos mais tarde, a 8 de Dezembro, nasce o segundo neto, Tiago.



Os últimos tempos em Parada de Gonta fizeram-no conhecer dias difíceis e penosos, horas cruéis que teriam derrubado uma alma menos sã ou menos preparada. Não obstante a existência discreta e pacata que levava entre pilhas de papéis e montanhas de livros, não poucas vezes se via alvo da inveja, da mesquinhês, do dito torpe e malévolo e, frequentemente, da baixeza de “gente feita à pressa com pressa de ser gente”, como ele mesmo dizia muito acertadamente...



E voltou de novo para Lisboa, não apenas porque sentia que chegava aos limites do que devia suportar, mas porque queria estar perto dos que continuavam a merecer a sua estima e que, na verdade, não o abandonaram. Depois, era o convívio literário e poético, o reencontro com velhos amigos, a partilha de ideias e gostos idênticos, a comunhão recordações, o culto do amor à Pátria... que um dia foi.



Era um farol resplandecente na noite negra e tormentosa, um carbúnculo brilhante nesta era de espanto assombrada pelo pio lúgubre do pássaro da morte... Era ele com os pés na terra e os olhos no céu, uma mão na caneta e outra na espada, o porte nobre e fidalgo do poeta-guerreiro para quem a honra se chama fidelidade.



Rodrigo Emílio tinha de pagar o tributo final... para chegar à última clarificação, talvez, que é o mais certo. Assim, foi-se deixando morrer, mas aos poucos, devagar, como o Rei-menino de Alcácer Quibir. Havia que matar saudades e quis voltar aos seus mortos e se foi em 28 de março de 2004.



OBRAS



As lágrimas ancoradas à sombra do amor (1963)

Mote para motim (1971)

Paralelo 26 s às audições do ìndico (1971)

Poemas acenados a uma criança longe (1972)

A segunda cegueira (1973)

Primeira colheita (1973)

Serenata a meus umbrais (1976)

Reunião de ruínas (1978)

Poemas de braço ao alto (1982)



Fonte: Comunidade Biografia e Poesia Portuguesa