Seja bem-vindo. Hoje é
27 de dez. de 2010
Uma cronica- poema de Gleidston Cesar
Descobri que para dois elos de uma corrente se unirem é preciso que um esteja aberto.
Descobri que para amar é preciso estar disponível.
Descobri que o que me faz ser diferente, é exactamente ser diferente.
Descobri que a cor da pele fecha e abre muitas portas.
Descobri que ler e escrever é necessário para entender a razão do ser humano.
Descobri que ter irmãos, na vida, é ser amigo, sem nada em troca pedir.
Descobri que ilusões são devaneios e sonhos são esperança, e que a única diferença entre um e outro, é que uns são alcançáveis e os outros não.
Descobri que para dizer: eu te amo, preciso primeiro provar com atitudes. Só então,depois, a frase terá sentido. Aprendi que amar, não é dizer, é vivenciar, disponibilizar e apoiar, sempre.
Descobri que amigos de verdade são aqueles que têm, os maiores defeitos, e nós
conseguimos suportá-los, e vice-versa.
Compreendi que meus pais são jóias raras. Que posso ir e vi, e eles estarão sempre no mesmo lugar, abertos os braços para me receberem.
Compreendi que experiência é quando, dia a dia me disponibilizo para a vida sem nada esperar em troca e meu dia acaba de forma diferente.
Compreendi que respeito eu conquisto com as minhas atitudes.
Descobri que ter humildade me abrirá muitas portas.
Descobri que preconceito, eu venço com competência.
Aprendi que ser negro ou branco, me faz perder tempo no discurso, e ser humano, me faz conquistar a plateia.
Compreendo, que quando você terminar de ler esse simples texto, terá uma opinião sobre o que leu. Isso irá evidenciar a lógica sobre o que escrito está.
( Gleidston César)
20 de dez. de 2010
Um poema de Gleidston Cesar.
Hoje escrevo-te para que saibas que dispenso
Tua presença embora ainda me sinta tentado
A não escrever. Mas é necessário.
Para que saibas que entre nos já não existe
...Companheirismo, não fidelidade nem
Lealdade. Você foi por longos anos, minha
Melhor companhia.
Na ausência de tantos outros sentimentos que
Não consegui exprimir, você não me deixou,
Esteve sempre presente. Quando fiquei no
Abandono, lá estava você. Quando não tive
Amigos, era você que nas letras das canções
Falava, vociferava, e se fazia presente.
Você solidão, sempre me viu e exibiu como troféu,
Sempre fez questão de em mim estampar o sinal
De que você era minha melhor companhia. Por isso
Sempre me olhei e fui olhado como se olha para alguém
Abandonado. Mas eu era mais.
Eram complacentes os olhares por isso
Minha presença enfadonha.
Em minhas palavras não havia suavidade.
Nelas sempre soava e se sentia
O odor do desprazer de quem sempre
Na depressão de alguma vivência vivia.
Hoje, solidão, tenho a felicidade de te demitir.
Na actual circunstancia você é indesejada e
Não há espaço para convivência! O sorriso
Que hoje trago e os sentimentos
Que a experiência me trouxe fizeram-me
Solidário comigo.
(Gleidston Cesar)
12 de nov. de 2010
'Poema em Novembro'
Era Novembro e chovia na cidade.
Pairava um halo sobre as casas
um fastio dulcíssimo nos corpos.
Soavam fogos de harmonias
que falavam de outras eras
doutros sonhos, doutras águas
palavras que traziam novelos de palavras,
murmúrios, comércio de pequenas alegrias
que acendiam memórias doutros gestos
e uma flauta que ardia nos teus olhos
a melancolia esdrúxula de meus dias.
Vieira Calado
Em "Causas de Habituação", a publicar
25 de out. de 2010
Sou habitante da cidade
Sou habitante da cidade, como os pombos
que esvoaçam a esperança de lés a lés.
Sou habitante da cidade,
como todos os sobreviventes
do cansaço ritmado dos horários.
As ruas esvaziam-se.
Um som sufocado de baladas protege
os culpados das ruínas do outono.
Em vão me iludo com a claridade da cidade desperta.
Ninguém chora a noite
depois da passagem dos barcos
pelo olhar das pessoas desprevenidas.
Graça Pires
De Outono: lugar frágil, 1994
15 de out. de 2010
'Garras dos sentidos'
Não quero cantar amores,
Amores são passos perdidos,
São frios raios solares,
Verdes garras dos sentidos.
São cavalos corredores
Com asas de ferro e chumbo,
Caídos nas águas fundas,
não quero cantar amores.
Paraísos proibidos,
Contentamentos injustos,
Feliz adversidade,
Amores são passos perdidos.
São demências dos olhares,
Alegre festa de pranto,
São furor obediente,
São frios raios solares.
Dá má sorte defendidos
Os homens de bom juízo
Têm nas mãos prodigiosas
Verdes garras dos sentidos.
Não quero cantar amores
Nem falar dos seus motivos
Agustina Bessa-Luis
in 'Dicionário Imperfeito'
A grande escritora portuguesa, completa hoje 86 anos.
27 de set. de 2010
HORIZONTE
(Painting by Nkolika Anyabolu)
O mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
'Splendia sobre as naus da iniciação.
Linha severa da longínqua costa-
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstrata linha
O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esp'rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte -
Os beijos merecidos da Verdade
Fernando Pessoa
de Mensagem- 2ª parte - O mar português -
O mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
'Splendia sobre as naus da iniciação.
Linha severa da longínqua costa-
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstrata linha
O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esp'rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte -
Os beijos merecidos da Verdade
Fernando Pessoa
de Mensagem- 2ª parte - O mar português -
17 de set. de 2010
"A rua respira"
a rua respira de um amarelo minúsculo,
nos dedos a poesia gasta-se.
com algemas nasceu uma rosa corroendo a paisagem,
e é Setembro.
chegaram os sopros pungentes da iluminação.
certamente vestirei um acto inútil,
perderei do sentido a noção.
ouve-me,
ainda que as esferas no meu sangue se esbarrem, o vento
continua a empurrar as aves
que conduzem trenós, e a ternura é veloz.
Maria Gomes
(Portugal)
1 de set. de 2010
José Eduardo Agualusa
'Poema para Iludir a Vida'
Tudo na vida está em esquecer o dia que passa.
Não importa que hoje seja qualquer coisa triste,
um cedro, areias, raízes,
ou asa de anjo
caída num paul.
O navio que passou além da barra
já não lembra a barra.
Tu o olhas nas estranhas águas que ele há-de sulcar
e nas estranhas gentes que o esperam em estranhos
[portos.
Hoje corre-te um rio dos olhos
e dos olhos arrancas limos e morcegos.
Ah, mas a tua vitória está em saber que não é hoje
[o fim
e que há certezas, firmes e belas,
que nem os olhos vesgos
podem negar.
Hoje é o dia de amanhã.
Fernando Namora,
in "Mar de Sargaços"
15 de ago. de 2010
Uma história com ondas e marés
Na concha mais débil se adivinha
uma história com ondas e marés,
quando a sombra de um mar
perturba a cor dos olhos
e povoa de barcos a respiração.
A voz, agrafada na revolta íntima
das fragas, estende uma paisagem
para o lado liberto da noite,
onde as luas se pressentem,
excessivas como as paixões.
Graça Pires
12 de ago. de 2010
Crepuscular
A incerteza cai com a tarde
no limite da praia. Um pássaro
apanhou-a, como se fosse
um peixe, e sobrevoa as dunas
levando-a no bico. O
seu desenho é nítido, sem
as sombras da dúvida ou
as manchas indecisas da
angústia. Termina com a
interrogação, os traços do fim,
o recorte branco de ondas
na maré baixa. Subo a estrofe
até apanhar esse pássaro
com o verso, prendo-o à frase,
para que as suas asas deixem
de bater e o bico se abra. Então,
a incerteza cai-me na página, e
arrasta-se pelo poema, até
me escorrer pelos dedos para
dentro da própria alma.
Nuno Júdice
8 de ago. de 2010
O Silêncio
Mia Couto
'Já não há domingos…'
Todas as vidas gastei
para morrer contigo.
E agora
esfumou-se o tempo
e perdi o teu passo
para além da curva do rio.
Rasguei as cartas.
Em vão: o papel restou intacto.
Só os meus dedos murcharam, decepados.
Queimei as fotos.
Em vão: as imagens restaram incólumes
e só os meus olhos se desfizeram, redondas cinzas.
Com que roupa
vestirei minha alma
agora que já não há domingos?
Quero morrer, não consigo.
Depois de te viver
não há poente
nem o enfim de um fim.
Todas as mortes gastei
para viver contigo.
Mia Couto
28 de jul. de 2010
'VITA BREVIS'
A vida é breve mas que a faz mais breve
não é morrer-se nem morrer quem foi
conosco nela espaço forma e tempo.
Que mais que a morte a humanidade encurta
e torna mais estreita a nossa vida.
Só brevemente e por um breve instante
seu corpo nos concede. E brevemente
é que pensar deseja que existimos.
Antes de mortos, antes de sozinhos
e apenas visitados de memórias,
já todos somos um jornal antigo
deitado fora sem sequer ser lido,
ou somos uma imagem desenhada
na borda do passeio em que se exibem
pisando-a com os pés que desenham
seus mesmos rostos que outros pés já pisam.
A vida é breve, breve, mas mais breve
quanto a quer breve a estupidez humana
fiel ao tempo ainda em que de espaço
o tempo se fazia e o pouco espaço
na terra imensa a todos não chegava.
5/1/1971
Jorge de Sena,
in Poesia-III, Edições 70, pp. 139-140, Agosto de 1989.
24 de jul. de 2010
"O passado acende reminiscências"
O passado acende reminiscências
como reflexos de sol num lago inerte,
uma lâmina de frio ao soar das brumas
onde a luz se escoa sobre a terra chã.
É a tarde a assomar os restos da tarde
a submergir as evocações derradeiras
de sal e cinza sobre o eco das sombras
num grande desassossego de memórias.
Prosseguimos preservando o seu amparo
à beira das palavras ainda vivas na memória
e os nossos passos seguem no chão dizendo
o clamor da terra a reclamar seu pão.
Vieira Calado
23 de jul. de 2010
***
E se o vento varrer as folhas secas sem deixar
nenhuma?
Este Outono ela não guardará folhas dentro dos livros
E ele não escreverá mais poemas a falar da sua morte
E ambos serão obrigados a não sair do Verão, mesmo
no Inverno, à chuva, atrás dos vidros.
*António Barahona
Noite do Meu Inverno
Lisboa, 2001
*(António Manuel Baptista Barahona da Fonseca (ou Muhammad Abdur Rashid Barahona) 7-1-1939, Lisboa)
17 de jul. de 2010
'Tal a Vida'
Em declive trepamos pela nuvem
dos dias — em declive circundamos
obscuros cristais
transportados no sangue— e somos e
levantamos
as cores primitivas da fonte a luz
que resvala corpo a corpo
a semente sazonada de quem roubou
o fogo — em declive canto
a ternura diluída a luz reflectida
neste muro onde vejo
a secreção da fala onde ouço
um caminho de metáforas: tal
a vida —
Casimiro de Brito,
in "Negação da Morte"
15 de jul. de 2010
"Coragem"
É preciso arranjar outros
motivos
outras flores e astros
Outras abertas
Entre a chuva cansada de um Outono
que não sabe já
qual é a terra certa
É preciso pensar outras imagens
outras fissuras, sítios
e cidades
Pôr fim ao lamento deste vento
tentar tirar ao anjo
a túnica e o sabre
É preciso inventar outras paisagens
outros montes e águas
outras margens
Abrir e expor o coração
e finalmente deixar
correr as lágrimas
Maria Teresa Horta,
In ‘ Destino'
9 de jul. de 2010
Epígrafe
Murmúrio de água na clepsidra gotejante
Lentas gotas de som no relógio da torre,
Fio de areia na ampulheta vigilante,
Leve sombra azulando a pedra do quadrante,
Assim se escoa a hora, assim se vive e morre...
Homem, que fazes tu? Para quê tanta lida,
Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta ameaça?
Procuremos somente a Beleza, que a vida
É um punhado infantil de areia ressequida,
Um som de água ou de bronze e uma sombra que passa...
Eugénio de Castro
18 de jun. de 2010
Na ilha por vezes habitada
(Ilhas Canarias- Espanha)
Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de
morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.
José Saramago
(in PROVAVELMENTE ALEGRIA, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1985, 3ª Edição)
Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de
morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.
José Saramago
(in PROVAVELMENTE ALEGRIA, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1985, 3ª Edição)
Poema à boca fechada
Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
José Saramago
Nascimento- Azinhaga, Golegã,Portugal. 16 de Novembro de 1922-
Falecimento- 18 de junho de 2010- Lanzarote,Ilhas Canárias,Espanha
14 de jun. de 2010
Distinguir
Nascer,
crescer
e continuamente aprender.
Ensinar,
identificar
e naturalmente classificar.
Distinguir,
perguntar:
Como se distingue um homem de um animal?
Como se distingue um homem de outro homem?
e consequentemente responder.
Um homem,
não se distingue
pelo que tem,
pode
ou obtém.
Mas sim,
pela atitude que toma
em relação a outro homem.
Vicente Ferreira da Silva
in 'Letras, Palavras e Linhas: Gestos pela diferença'
Nossas homenagens ao querido poeta e amigo, que está hoje aniversariando!
Desejamos muitas realizações, paz, alegria!
Seja sempre muito feliz!
São os votos de suas amigas aqui do Brasil.
crescer
e continuamente aprender.
Ensinar,
identificar
e naturalmente classificar.
Distinguir,
perguntar:
Como se distingue um homem de um animal?
Como se distingue um homem de outro homem?
e consequentemente responder.
Um homem,
não se distingue
pelo que tem,
pode
ou obtém.
Mas sim,
pela atitude que toma
em relação a outro homem.
Vicente Ferreira da Silva
in 'Letras, Palavras e Linhas: Gestos pela diferença'
Nossas homenagens ao querido poeta e amigo, que está hoje aniversariando!
Desejamos muitas realizações, paz, alegria!
Seja sempre muito feliz!
São os votos de suas amigas aqui do Brasil.
11 de jun. de 2010
A NOITE E A CASA
9 de jun. de 2010
IDADE
Conheci dias duradouros,
o sol tão longo entre manhã e tarde.
Um levantar súbito de luz
por trás da crista das heras no muro velho,
e depois descer no verão entre grades verdes
e para além do portão como a cair no Hades,
no inverno. Não havia tempo
nos dias longos, mas a passagem diária
do sol abençoado.
Fiama Hasse Pais Brandão
o sol tão longo entre manhã e tarde.
Um levantar súbito de luz
por trás da crista das heras no muro velho,
e depois descer no verão entre grades verdes
e para além do portão como a cair no Hades,
no inverno. Não havia tempo
nos dias longos, mas a passagem diária
do sol abençoado.
Fiama Hasse Pais Brandão
Tristeza
O sol do outono, as folhas a cair,
A minha voz baixinho soluçando,
Os meus olhos, em lágrimas, beijando
A terra, e o meu espírito a sorrir...
Eis como a minha vida vai passando
Em frente ao seu Fantasma... E fico a ouvir
Silencios da minh'alma e o resurgir
De mortos que me foram sepultando...
E fico mudo, extático, parado
E quase sem sentidos, mergulhando
Na minha viva e funda intimidade...
Só a longínqua estrela em mim atua...
Sou rocha harmoniosa á luz da lua,
Petrificada esfinge de saudade...
Teixeira de Pascoaes,
in 'Elegias'
A minha voz baixinho soluçando,
Os meus olhos, em lágrimas, beijando
A terra, e o meu espírito a sorrir...
Eis como a minha vida vai passando
Em frente ao seu Fantasma... E fico a ouvir
Silencios da minh'alma e o resurgir
De mortos que me foram sepultando...
E fico mudo, extático, parado
E quase sem sentidos, mergulhando
Na minha viva e funda intimidade...
Só a longínqua estrela em mim atua...
Sou rocha harmoniosa á luz da lua,
Petrificada esfinge de saudade...
Teixeira de Pascoaes,
in 'Elegias'
5 de jun. de 2010
4 de jun. de 2010
O segredo dos pássaros
O coração conhece o segredo dos pássaros,
a ânsia de horizontes para além do horizonte.
O segredo dos pássaros é uma centelha
de luz rebuscando a simplicidade duma vida
imagens móveis que alargam o nosso chão,
apenas em memórias difusas de exiguidade
e fantasmas de veludo passando mãos inertes
sobre o nosso rosto.
Ou labaredas azuis duma tarde quente
e o fio dum arco-íris
em suas cores de transparência e frio.
O coração conhece o segredo dos pássaros
e o seu degredo.
E eu apenas recomeço os trabalhos
da simplicidade da minha vida
e reconheço a sua exiguidade
guiada por horizontes de bruma.
Vieira Calado
(inédito)
a ânsia de horizontes para além do horizonte.
O segredo dos pássaros é uma centelha
de luz rebuscando a simplicidade duma vida
imagens móveis que alargam o nosso chão,
apenas em memórias difusas de exiguidade
e fantasmas de veludo passando mãos inertes
sobre o nosso rosto.
Ou labaredas azuis duma tarde quente
e o fio dum arco-íris
em suas cores de transparência e frio.
O coração conhece o segredo dos pássaros
e o seu degredo.
E eu apenas recomeço os trabalhos
da simplicidade da minha vida
e reconheço a sua exiguidade
guiada por horizontes de bruma.
Vieira Calado
(inédito)
27 de mai. de 2010
Tabacaria (excerto)
24 de mai. de 2010
"Um breve olhar"
Lá em cima, no ar
Sobre a monotonia destas casas
Sulcando, sereníssimas, os céus,
Abrem a larga rima das suas asas,
Lenços brancos do azul, dizendo adeus
Ao vento e ao mar.
Eu fico a vê-las
E meus olhos, de as verem, vão partindo
E fugindo com elas;
E a segui-las eu penso,
Enquanto o olhar no azul se espraia e prega,
Que há uma graça, que há um sonho imenso
Em tudo o que flutua e que navega…
Para onde se desterram as gaivotas,
Contra o vento vogando, altas e belas,
Essas voantes e pairantes frotas,
Essas vivas e alvas caravelas?
Vão para longe… E lá desaparecem,
Ao largo, por detrás do monte;
E os nossos olhos olham e entristecem
Com as vagas saudades que merecem
As coisas que se somem no horizonte!
Afonso Lopes Vieira
In "Canção do Vento"
(Leiria, 26 de janeiro de 1878 - Lisboa, 1946)
Sobre a monotonia destas casas
Sulcando, sereníssimas, os céus,
Abrem a larga rima das suas asas,
Lenços brancos do azul, dizendo adeus
Ao vento e ao mar.
Eu fico a vê-las
E meus olhos, de as verem, vão partindo
E fugindo com elas;
E a segui-las eu penso,
Enquanto o olhar no azul se espraia e prega,
Que há uma graça, que há um sonho imenso
Em tudo o que flutua e que navega…
Para onde se desterram as gaivotas,
Contra o vento vogando, altas e belas,
Essas voantes e pairantes frotas,
Essas vivas e alvas caravelas?
Vão para longe… E lá desaparecem,
Ao largo, por detrás do monte;
E os nossos olhos olham e entristecem
Com as vagas saudades que merecem
As coisas que se somem no horizonte!
Afonso Lopes Vieira
In "Canção do Vento"
(Leiria, 26 de janeiro de 1878 - Lisboa, 1946)
18 de mai. de 2010
Um olhar
Se um dia passares pela nascente de um rio
visita a minha sombra húmida,
indiferente à inquietação das árvores
carregadas da memória do vento.
Pára e inclina sobre ela um olhar tão cúmplice
como quem, com lentíssimas mãos,
pressente o apelo dos lábios.
Graça Pires
De Conjugar afectos, 1997
(Link do blog da autora)
visita a minha sombra húmida,
indiferente à inquietação das árvores
carregadas da memória do vento.
Pára e inclina sobre ela um olhar tão cúmplice
como quem, com lentíssimas mãos,
pressente o apelo dos lábios.
Graça Pires
De Conjugar afectos, 1997
(Link do blog da autora)
9 de mai. de 2010
VIII
Ontem, sentado num penhasco, e perto
Dos águas, então quedas, do oceano,
Eu também o louvei sem ser um justo:
E meditei, e a mente extasiada
Deixei correr pela amplidão das ondas.
Como abraço materno era suave
A aragem fresca do cair das trevas.
Enquanto, envolta em glória, a clara Lua
Sumia em seu fulgor milhões d'estrelas.
Tudo calado estava: o mar somente
As harmonias da criação soltava,
Em seu rugido; e o ulmeiro do deserto
Se agitava, gemendo e murmurando.
Ante o sopro de oeste: ali dos olhos
O pranto me correu, sem que o sentisse.
E aos pés de Deus se derramou minha alma.
Alexandre Herculano,
em A Harpa do Crente
30 de abr. de 2010
29 de abr. de 2010
Alguém me disse
28 de abr. de 2010
24 de abr. de 2010
À sua passagem a noite é vermelha...
À sua passagem a noite é vermelha,
E a vida que temos parece
Exausta, inútil, alheia.
Ninguém sabe onde vai nem donde vem,
Mas o eco dos seus passos
Enche o ar de caminhos e de espaços
E acorda as ruas mortas.
Então o mistério das coisas estremece
E o desconhecido cresce
Como uma flor vermelha.
Sophia de Mello Breyner Andresen
21 de abr. de 2010
9 de abr. de 2010
Toma essas rosas de Dezembro agora
Toma essas rosas de Dezembro agora,
Que ao frio, à chuva, esta manhã colhi,
Elas trazem humildes, lá de fora,
Saudades da montanha até aqui.
Hão de morrer d’aqui a pouco, embora!
Em cada curva, onde o perfume ri,
Trazem mais o terno duma hora,
que um frágil coração bateu em ti.
Aceita-as pois, mas, como a vida é breve,
E, um dia, peno, leve e branca a neve,
Há-de cair sobre o teu peito em flor,
(Não vá Dezembro algum murchar-te o encanto)
Deixa tu que eu te colha agora, enquanto
Tens sol, tens mocidade e tens amor.
Joaquim Nunes Claro
(Lisboa a 20 de Abril de 1878 / Sintra a 5 de Maio de 1949)
VAZIO
Todo o mar nos meus olhos, e não basta!
Enche-nos mais uma lágrima furtiva ...
Neste banquete azul, há um só conviva
Farto e feliz.
É o céu, que se debruça sobre as ondas
Sem amargura.
É ele, que não procura
Por detrás da verdade outra verdade.
Serenamente, lá da eternidade,
Bebe e come
A imagem refletida do seu nome.
Miguel Torga
In Antologia Poética
Exaltação
30 de mar. de 2010
Tiro a máscara
(Kasimir Malevich- 1878-1935 Russia)
À queima-roupa, tiro a máscara
com que me desfiguro e transfiguro.
Desenho na cara o mirante
donde se avista a via-sacra das quimeras.
Transmuto o medo
e projecto na alma um pássaro solto,
volúvel e imprevisível como um rio.
Construo, no meu peito, o vaso baptismal
onde a minha orfandade se redime.
Graça Pires
De Labirintos, 1997
À queima-roupa, tiro a máscara
com que me desfiguro e transfiguro.
Desenho na cara o mirante
donde se avista a via-sacra das quimeras.
Transmuto o medo
e projecto na alma um pássaro solto,
volúvel e imprevisível como um rio.
Construo, no meu peito, o vaso baptismal
onde a minha orfandade se redime.
Graça Pires
De Labirintos, 1997
FUGA
22 de mar. de 2010
Mar Morto
A noite caiu sobre o cais, sobre o mar, sobre mim...
As ondas fracas, contra o molhe, são vozes calmas de afogados.
O luar marca uma estrada clara e macia nas águas,
mas os barcos que saem podem procurar mais noite,
e com as suas luzes vão pôr mais estrelas além ...
O vento foi para outros cais levar o medo,
e as mulheres, que vêm dizer adeus e cantar,
hoje sabem canções com mais esperança,
canções mais fortes que a ressaca,
canções sem pausas onde passe uma sombra da morte...
Velhos marítimos — a terra é já a sua terra —
olham o mar mais distante e têm maior saudade...
Pára o rumor duns remos...
Não vão mais às estrelas as canções com noite, amor e morte...
Penso em todos os que foram e andam no mar,
em todos os que ficam e andam no mar também ...
E a luz do farol, lá longe, diz talvez...
Alberto de Serpa
In “Pregão” – 1952- Edições Saber
(Porto, 12 de Dezembro de 1906 - 8 de Outubro de 1992)
As ondas fracas, contra o molhe, são vozes calmas de afogados.
O luar marca uma estrada clara e macia nas águas,
mas os barcos que saem podem procurar mais noite,
e com as suas luzes vão pôr mais estrelas além ...
O vento foi para outros cais levar o medo,
e as mulheres, que vêm dizer adeus e cantar,
hoje sabem canções com mais esperança,
canções mais fortes que a ressaca,
canções sem pausas onde passe uma sombra da morte...
Velhos marítimos — a terra é já a sua terra —
olham o mar mais distante e têm maior saudade...
Pára o rumor duns remos...
Não vão mais às estrelas as canções com noite, amor e morte...
Penso em todos os que foram e andam no mar,
em todos os que ficam e andam no mar também ...
E a luz do farol, lá longe, diz talvez...
Alberto de Serpa
In “Pregão” – 1952- Edições Saber
(Porto, 12 de Dezembro de 1906 - 8 de Outubro de 1992)
Cada verdade
Agora que os milénios se passaram
Sobre as glórias do império de uma infância
Recordo, debruçada na distância,
O muito que esses tempos me ensinaram.
O tanto que então lia e pesquisava,
As construções das cores e dos grafismos
E a dissecação dos silogismos
Em que uma maioria acreditava…
As coisas que aprendi, as que sonhei,
As que nunca pensei `inda aprender
E os sonhos construídos na vontade…
Hoje procuro ainda o que não sei
Nos mais fundos recantos do meu ser
Onde alcanço encontrar cada verdade.
Maria João Brito de Sousa
Descaminhos
Depois de perdido
No labirinto dos olhares do mundo,
Arrancado aos eixos de um tempo linear,
Afogado nas horas disfarçadas de azul-celeste...
Depois de devidamente
Arrancadas as raízes,
Podados os ramos do sentir,
Colhidos os frutos que podiam ser úteis,
Apontaram-lhe
O caminho politicamente correcto
Na direcção do cativeiro travestido de sorrisos.
Nesse mesmo dia,
Desenraizado,
Despojado de frutos,
Despido de sonhos,
Amputado de afectos
E devidamente encaminhado...
Aprendeu a voar por dentro.
Maria João Brito de Sousa
(Algés, Concelho de Oeiras,4 de Novembro de 1952)
17 de mar. de 2010
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Poema da Utopia
A noite caiu sem manchas e sem culpa.
Os homens largaram as máscaras de bons atores.
Findou o espetáculo. Tudo o mais é arrabalde.
No alto, a utópica Lua vela comigo
E sonha coalhar de branco as sombras do mundo.
Um palhaço, a seu lado, sopra no ventre dos búzios.
Noite! Se o espetáculo findou
Deixa-nos também dormir.
Fernando Namora
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