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16 de out. de 2012

''LÁ EM BAIXO É A FONTE''


Muitas vezes é o sono que me tem desperto.
Entram aqui, drenadas pela fadiga, vozes
sem rosto, o perfil agudo de um pífaro
esboçando, no ar, avulsas melodias.
Lá em baixo é a fonte, a matriz, o berço
onde nascem e morrem os lúbricos gladíolos.
Hoje, a noite é uma açucena, cheira a trevo
e a rosmaninho.
Boca silvestre.
Sorriso adúltero.

Albano Martins
de 'Assim São as Algas'

''MEU NOME É ESTA CANÇÃO''





Sou uma criança perdida
na imaginação dum bosque.
O vento solta-me o coração,
mas prende-me os braços e o tronco
e nunca mudo de posição.

Os espanejadores do medo
levantam o pó das lágrimas.
O tempo empoeira-se de lendas
e a água da vida vai-se congelando,
enquanto os sonhos ressonam
e eu vou crescendo e minguando.

Queimem o bosque e procurem
o dicionário dos meus anos.
Não sei que idade tenho,
perdi a imaginação
e deixei a memória em casa.
Meu nome é esta canção.


Albano Martins
de «Outros Poemas», 1951/52;
«Vocação do Silêncio»