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10 de jul. de 2012

''Memórias de Dulcineia'' XI

Com as árvores e com as águas
partilho os meus pensamentos.
Manuseio estas palavras
como se fossem minhas
para as usar como protesto,
como absolvição: a boca
devorando a própria fome.
Aguardo um sinal que decifre
o nomadismo da memória
e rompa a cumplicidade do tempo.

Graça Pires
De Uma extensa mancha de sonhos, 2008

''Memórias de Dulcineia'' XIII

Sem medo do perfil
em que me invento
procuro os ângulos
menos sombrios
do passado.
Viro os gestos do avesso.
Deturpo conceitos e preconceitos.
Esqueço os comportamentos comuns.
Imagino-me num castelo longínquo,
cativa e princesa.
Não quero adiar o destino
de me rever nos sonhos
que te chamaram de tão longe.
Eu, aqui, morrendo aos poucos,
sitiada do teu nome.

Graça Pires
De Uma extensa mancha de sonhos, 2008

(Imagem; Eilean Donan Castle, Loch Duich Scotland)