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25 de abr. de 2013

''Presente''




eu luto
dia a dia
entre primaveras
por manter a jovialidade

que permite
renascer
a cada dia
como se fosse o primeiro
como se fora o último
…sendo único!

Joaquim do Carmo (a publicar)
© (direitos reservados)

''Ai, flores...''




De seda vestidas,
Suaves encantos,
De amantes,
Feiticeiras!

Ai, pétalas…

As cores
Os cheiros
O toque…

Ai, beleza! Ai, vida!

Inebriantes,
Terna melodia
De amor, doce paixão…

Ai, flores, voltem... ao poema!

Joaquim do Carmo (a publicar)
© (direitos reservados)

"ABRIL"



Como um pássaro pousado
no topo de uma árvore,
Abril espera o tempo oportuno,
sabendo que tudo muda.

A erva mais insignificante
verdeja promessas de bom tempo,
quer o céu esteja cinzento, quer azul.

Entre o pólen doirado
que cai dos plátanos
passa a gente indiferente;
entre chispas incandescentes e feridas
canta e ajuda o vento.

Um Abril me vai trazer
pelo ar uma canção,
o meu amigo cantava-a,
também a quero cantar eu!

Ai Abril, mês amoroso,
ar de luz,
voo de sementes!

Que nos trará o rio de Abril
na sua corrente:
água pura, água turva,
boas horas ou tempos maus?
Serão de morte ou de vida
estas flores?
Eu quero a do meu amigo,
cravo de bons aromas.

Querido, não estejas triste
se te custa respirar,
se Março não nos trouxe mudança
um bom Abril o fará.

Maria del Mar Bonet

(Palma de Mallorca, 27 de abril de 1947) es una cantante y compositora española en lengua catalana, con una larga trayectoria de investigación en las músicas populares de las islas Baleares, Cataluña, y de todo el entorno mediterráneo.

*(Sobre o poema) Maria del Mar Bonet cantou esta balada pela primeira vez em Abril de 1975, dedicando-a a José Afonso o que esclareceu quem era o "amigo" de quem falava e qual a "canção" a que se referia. O Caudilho ainda estava vivo (Franco morreu em Novembro de 1975) mas velho e doente; o regime parecia perto de colapsar. A queda do regime português em Abril de 1974 foi saudada pelos liberais espanhóis que viram nela um prenúncio do que sucederia em Espanha... Mas em Março de 1975 a liberdade ainda não tinha chegado e muitos lembravam com apreensão os horrores da Guerra Civil...

Neste belo poema, Maria del Mar Bonet chama "Abril" ao mês desse nome, à liberdade e, presumivelmente, à revolução que muitos desejavam desde que fosse pacífica, como em Portugal (mas que Espanha acabou por não ter).

''CANTO PRIMAVERIL''



Sobre o azul do céu,
Ainda vacilante
Nasce o sol, desperto,
Em seu trono brilhante.

No verde escondido
Pintalga de estrelas,
Pontos fluorescentes,
A minha janela.

Bem seguro ao bico
De andorinha amiga,
Alegre e saltitante,
P’los ramos das árvores
Canta-me ao ouvido,
Como se em segredo,
Em versos de luz:
Vem, é Primavera!

Joaquim do Carmo
in "Amanhecer pelo fim da tarde", 

Lua De Marfim Editora, Abril de 2013

''Palavra que desnudo''


Entre a asa e o voo
nos trocámos
como a doçura e o fruto
nos unimos
num mesmo corpo de cinza
nos consumimos
e por isso
quando te recordo
percorro a imperceptível
fronteira do meu corpo
e sangro
nos teus flancos doloridos
Tu és o encoberto lado
da palavra que desnudo

Mia Couto

[Photography by Michael Seif]