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9 de jan. de 2010



(...)Minha dor é velha
Como um frasco de essência cheio de pó.
Minha dor é inútil
Como uma gaiola numa terra onde não há aves,
E minha dor é silenciosa e triste
Como a parte da praia onde o mar não chega.
Chego às janelas
Dos palácios arruinados
E cismo de dentro para fora
Para me consolar do presente.
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também...

Mas por mais rosas e lírios que me dês,
Eu nunca acharei que a vida é bastante.
Faltar-me-á sempre qualquer coisa,
Sobrar-me-á sempre de que desejar,
Como um palco deserto.

Por isso, não te importes com o que eu penso,
E muito embora o que eu te peça
Te pareça que não quer dizer nada,
Minha pobre criança tísica,
Dá-me das tuas rosas e dos teus lírios,
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também...


Álvaro de Campos,
in "Poemas"

Um comentário:

  1. Lindissimo poema.

    (...)Minha dor é velha
    Como um frasco de essência cheio de pó.
    Minha dor é inútil
    Como uma gaiola numa terra onde não há aves,
    E minha dor é silenciosa e triste

    adorei, diz-me tanto.

    Beijinhos

    Sonhadora

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