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22 de mar. de 2010

Mar Morto


A noite caiu sobre o cais, sobre o mar, sobre mim...
As ondas fracas, contra o molhe, são vozes calmas de afogados.
O luar marca uma estrada clara e macia nas águas,
mas os barcos que saem podem procurar mais noite,
e com as suas luzes vão pôr mais estrelas além ...
O vento foi para outros cais levar o medo,
e as mulheres, que vêm dizer adeus e cantar,
hoje sabem canções com mais esperança,
canções mais fortes que a ressaca,
canções sem pausas onde passe uma sombra da morte...
Velhos marítimos — a terra é já a sua terra —
olham o mar mais distante e têm maior saudade...
Pára o rumor duns remos...
Não vão mais às estrelas as canções com noite, amor e morte...
Penso em todos os que foram e andam no mar,
em todos os que ficam e andam no mar também ...
E a luz do farol, lá longe, diz talvez...


Alberto de Serpa
In “Pregão” – 1952- Edições Saber
(Porto, 12 de Dezembro de 1906 - 8 de Outubro de 1992)

Um comentário:

  1. Olá!
    Gosto muito de visitar a sua página!
    Tudo de muito bom gosto.
    Parabéns pelas postagens!
    Bjs

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