Para velar da luz a face refulgente
Nuvens pesadas vão correndo acumuladas,
E, na treva do oceano, as vagas compassadas
Passam, uma por uma, interminavelmente.
Mais do que a sombra, escura, avulta de repente
A lancha negra, vem... dos remos as pancadas
Ferem o mar, que chora, em gotas prateadas
As lágrimas sem fim, da sua dor pungente.
Eila a meus pés, a lancha, e nela, silenciosa,
Embarca a doce e branca imagem de outra idade!
E vejo-a ir... sumir-se... a lancha misteriosa!...
Então, dentro de mim, num soluço, a saudade
Murmura, a perscrutar a sombra tenebrosa:
Nunca mais voltarás, nunca mais! Mocidade.
Adelina Lopes Vieira
Em: A Faceira, ano 1, n. 4, nov. 1911.
Adelina Amélia Lopes Vieira nasceu em Lisboa em 20 de setembro de 1850 e morreu no Rio de Janeiro em 1922(?). Escritora, contista, professora e teatróloga, era filha de Valentim José da Silveira Lopes e de Antonia Adelina. Seus pais vieram para o Brasil quando ela tinha um pouco mais de um ano. Ficou conhecida no Brasil como autora de contos para crianças. Escreveu com sua irmã Júlia Lopes de Almeida Contos infantis (1886). Formou-se professora pela Escola Normal do Rio de Janeiro. Escreveu peças de teatro, foi tradutora e colaboradora de periódicos, como o jornal O Tempo, onde defendia a política de Floriano Peixoto, e a revista A Mensageira. Traduziu A terrina, comédia em um ato, de Ernesto Hervelly. Publicou o livro Margaritas, no Rio de Janeiro em 1879 e o conto Destinos, publicado em 1890. Escreveu peças teatrais como A viagem de Murilo, drama em verso, As duas doses, drama, e Expiação, drama em três atos e um prólogo. Na revista A Faceira encontramos de sua autoria o soneto A lancha negra.
Maravilhoso poema, onde a nostalgia e a saudade, cabem inteiras na memória de uma lancha.
ResponderExcluirForte abraço!
Mirze