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19 de out. de 2013

COMO SE HOUVESSE UMA TEMPESTADE...



Como se houvesse uma tempestade
escurecendo os teus cabelos,
ou, se preferes, minha boca nos teus olhos,
carregada de flor e dos teus dedos; 

como se houvesse uma criança cega
aos tropeções dentro de ti,
eu falei em neve, e tu calavas
a voz onde contigo me perdi. 

Como se a noite se viesse e te levasse,
eu era só fome o que sentia;
digo-te adeus, como se não voltasse
ao país onde teu corpo principia. 

Como se houvesse nuvens sobre nuvens
e sobre as nuvens mar perfeito,
ou, se preferes, a tua boca clara
singrando largamente no meu peito.


Eugénio de Andrade 
in 'As palavras Interditas' (1951)






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