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19 de out. de 2013

Os amantes sem dinheiro



Tinham o rosto aberto a quem passava 
Tinham lendas e mitos 
e frio no coração. 
Tinham jardins onde a lua passeava 
de mãos dadas com a água 
e um anjo de pedra por irmão. 
Tinha como toda a gente 
o milagre de cada dia 
escorrendo pelos telhados; 
e olhos de oiro 
onde ardiam 
os sonhos mais tresmalhados. 

Tinham fome e sede como os bichos, 
e silêncio 
à roda dos seus passos, 
mas a cada gesto que faziam 
um pássaro nascia dos seus dedos 
e deslumbrado penetrava nos espaços. 


Eugénio de Andrade
In ‘Os Amantes sem dinheiro’ (1950)




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