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18 de out. de 2013

As Palavras Interditas




Os navios existem e existe o teu rosto 
encostado ao rosto dos navios. 
Sem nenhum destino flutuam nas cidades, 
partem no vento, regressam nos rios. 

Na areia branca, onde o tempo começa, 
uma criança passa de costas para o mar. 
Anoitece. Não há dúvida, anoitece. 
É preciso partir, é preciso ficar. 

Os hospitais cobrem-se de cinza. 
Ondas de sombra quebram nas esquinas. 
Amo-te... E abrem-se janelas 
mostrando a brancura das cortinas. 

As palavras que te envio são interditas 
até, meu amor, pelo halo das searas; 
se alguma regressasse, nem já reconhecia 
o teu nome nas minhas curvas claras. 

Dói-me esta água, este ar que se respira, 
dói-me esta solidão de pedra escura, 
e estas mãos noturnas onde aperto 
os meus dias quebrados na cintura. 

E a noite cresce apaixonadamente. 
Nas suas margens vivas, desenhadas, 
cada homem tem apenas para dar 
um horizonte de cidades bombardeadas. 


Eugénio de Andrade




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