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16 de out. de 2013
Excertos
...
Um leopardo
azul me conduz
pelo dorso da noite.
***
Como se esta fosse
a primeira pedra,
o lugar habitado
da primeira semente.
***
Como quem no silêncio concede
o espaço
para um filho
- assim te vejo, assim
te quero
e louvo
e invoco
e te perfilho.
***
Assim
de seu ocluso
e lânguido
casulo
expulsas
o verão.
Borboletas
sonâmbulas
do desejo
- as minhas
tuas mãos.
***
No centro da volúpia, como essência
e forma, como adorno,
contorno e cerne, é que o voo
se fixa, é que a ave
reside e o canto
mora
e morre.
***
O que quer que fosse - o liso
algodão dos lábios, a almofada
volúvel do sorriso,
Lâmpadas
ardendo sob
as devolutas pálpebras.
***
Eu te baptizo: hidrângea
é teu nome - cesto
de água, idioma
e intriga do perfume.
***
Em seda e água
lavas
teu coração
de malva.
***
Morangos
eram
tuas pupilas
brancas.
***
A tua boca:
Uma andorinha.
***
Para nenúfar
sobrava-te a água.
***
Em teus dedos pus
um anel de crisântemos.
***
Tu estás do outro lado.
Há pêssegos, laranjas sobre a mesa.
Presenças tangentes ao desejo.
***
Toco-te.
e todo o oiro se dissolve.
***
Liames, tentáculos, a
circunferência onde
acessíveis
navegam
os mitos. O rio
oval. Em suas
margens a carnuda
floração dos corpos, a
plácida,
incorrupta
nudez.
***
Abelhas circulam, circundam
a pele, o ventre. Em seus
cortiços de água e maresia
se faz doce o mel.
***
E te pressinto
o bafo. Vens
com teus pólipos de águia
submarina, teu
cinto de agudos
sobressaltos. Alga
de sangue e magma, tu
cresces redonda, coroada
de arquipélagos de escamas
e de espuma.
***
Ínvios
são os caminhos
da posse. Invio
láveis.
***
Dos artelhos
à coxa,
táctil
a noite
roxa.
***
De ti fiz a harpa e a lira,
a guitarra.
Outra música não sei.
***
Esta é a margem
do azul. Nenhum
outro limite
reconheço ao sangue.
Albano Martins
Três poemas de amor seguidos de Livro Quarto, Quasi,
2004, Lisboa
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